Gigantes de internet passam a adotar novos recursos
em aplicativos que se popularizaram muito antes no país mais populoso do mundo
O aplicativo de compartilhamento de fotos e vídeos
Snapchat usa códigos QR – que mais parecem tabuleiros de xadrez – para
compartilhar informações com os usuários a partir de um simples toque na câmera
do smartphone. O Facebook quer adicionar esse recurso aos serviços de chamada
de táxis e de pagamentos dentro do aplicativo Messenger. Recentemente, a rede
social e o Twitter iniciaram o serviço de streaming de vídeo ao vivo. Todos
estes avanços têm algo em comum: ganharam popularidade primeiro na China.
WeChat e Alipay são dois aplicativos chineses que
há muito tempo usam os códigos QR em serviços para permitir que as pessoas
paguem por compras e transfiram dinheiro. Ambos permitem aos usuários chamarem
um táxi ou encomendarem uma pizza sem ter de mudar para outro aplicativo. O
serviço de streaming de vídeo YY.com há anos transforma jovens chineses em
“estrelas”, permitindo que eles posem, conversem e cantem diante da câmera do
celular.
O Vale do Silício é a capital da tecnologia do
mundo: ali nasceram as redes sociais e o iPhone e, depois, essas tecnologias se
difundiram em todo o mundo. A conversa sempre foi de que a China segue na
esteira do Vale do Silício, pois a censura do governo favoreceu a ascensão de
versões locais do Google, YouTube e Twitter.
Mas o setor de tecnologia da China – em especial as
desenvolvedoras de aplicativos móveis – de certo modo superou os Estados
Unidos. Agora, as empresas ocidentais estão de olho nas chinesas em busca de
ideias. “A China está cada vez mais na frente”, disse Ted Livingston, fundador
do aplicativo de mensagens Kik, com sede nos EUA.
A China pode ter um grande papel na direção que o
setor de tecnologia global vai seguir no futuro. Por lá, um grande número de
pessoas já usa celulares para pagar contas, encomendar produtos, assistir
vídeos e encontrar um namorado do que em qualquer outro lugar do mundo. No ano
passado, o número de transações feitas em serviços de pagamento móvel superou
os realizados nos EUA.
As maiores empresas de internet da China são as
únicas no mundo que competem com os EUA em escala. Após o aplicativo de carona
Didi Chuxing comprar a operação chinesa do Uber ficou claro que os chineses
conseguem enfrentar as mais sofisticadas e maiores startups vindas dos EUA.
Especialistas indicam inúmeras áreas em que a China
saltou primeiro. Antes de surgir o aplicativo de namoro online Tinder, os
usuários na China já usavam um aplicativo chamado Momo. Antes de o presidente
executivo da Amazon, Jeff Bezos, discutir o uso de drones para entregas, a
empresa de entregas chinesa S.F. Express já testava a ideia. O WeChat já
oferecia o acesso mais rápido a notícias muito antes do Facebook lançar os
artigos instantâneos. O aplicativo oferecia o envio de áudio antes do WhatsApp
e permitia o uso de códigos QR muito antes do Snapchat.
“Essa história de que a China copia os EUA há anos
deixou de ser verdadeira e, no caso da tecnologia móvel, ocorre até o oposto:
os EUA, com frequência, copiam a China”, disse o fundador da empresa de
pesquisa Stratechery, Ben Thompson. “No caso do Messenger do Facebook, a melhor
maneira de entender sua trajetória é examinar o WeChat.”
A maior vantagem da China é que o país criou vários
setores “do zero” no final da Revolução Cultural, em 1976. Ao contrário dos
EUA, onde bancos e lojas já tinham forte acesso aos clientes, os bancos
estatais chineses são ineficientes e as lojas nunca conseguiram um ritmo
adequado para atender a uma classe média que cresce muito rápido.
Além disto, muitos chineses nunca compraram um
computador, o que significa que o smartphone é o principal aparelho para as
mais de 600 milhões de pessoas que o utilizam na China.
Desafios. Apesar disso, a China está atrasada em áreas importantes. Seus
poderosos servidores de ponta e supercomputadores dependem, em grande parte, de
tecnologia americana. Startups de realidade virtual estão bem atrás de colegas
estrangeiros e o Google está à frente do Baidu no desenvolvimento do carro sem
motorista.
Muitos dos produtos chineses também não têm o
refinamento dos produtos oferecidos pelas suas concorrentes nascidas nos EUA.
Por
Paul Mozur - THE NEW YORK TIMES
Tradução
de Terezinha Martino - Estadão
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